sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Mito da "Mãe Melhor"

Tenho uns 4 anos de grupos de apoio de mães, ferramenta espetacular das Redes Sociais! Primeiramente no velho Orkut com mães "de todo tipo", e posteriormente mais focada apenas nos específicos para mães de APLV no Facebook. 

Desde sempre, ainda no grupo "de todos os tipos" já me surpreendia com esse fenômeno, de uma mãe querer provar para as outras que era a "melhor", ou por ter tido parto natural, ou por ter amamentado por X anos, ou por não oferecer "porcarias" na dieta deles etc etc etc.

E isso não acaba, gente. Ainda hoje, acontecem brigas homéricas de bate-teclas entre mães, e como sei que já fui uma delas, pois eu não me continha nos meus impulsos, entendo perfeitamente o que move os ânimos de mães que se sentem agredidas com certas posturas.

No entanto, até eu que já estou "anestesiada" quanto aos assuntos polêmicos de sempre, por vezes sinto-me extremamente incomodada com os posicionamentos pedantes dessas "exemplares" mães.

Por isso, fui pesquisar um pouco na Net sobre algum estudo profissional acerca do tema, e acabei encontrando um artigo de Psicologia da Universidade Católica de Brasília e publicado na Scielo (veja artigo completo AQUI ). A autora faz um estudo de caso associando essa "nova filosofia da maternagem moderna" aos sintomas de depressão pós-parto. O interessante, que resolvi trazer para esta publicação, são os conceitos teóricos abordados... Menciona que essa atribuição da Maternidade cheia de sacrifícios NÃO é histórica (como muitos pensam), e sim uma influência da publicação de Émile de Rousseau, no século XVIII:
"Forna (1999) nos conta que esse estilo de maternagem teve seu início em 1762, a partir da publicação de Émile, por Rousseau, quando este criticou as mães que enviavam os filhos para as amas-de-leite, o que era bastante comum até esta época. Ele recomendava, enfaticamente, que as próprias mães amamentassem e criassem seus filhos e as recriminava por darem preferência a outros interesses. Segundo Badinter (1985) dá-se aí, o início à injunção obrigatória do amor materno. Serrurier (1993) também afirma que é deste Émile, que estamos condenadas a ser mães e a ser boas mães. Não há alternativa para a mulher: a vocação materna é natural, instintiva e obrigatória!" (Fonte)
A carga que recai nos nossos ombros realmente é imensa! Temos que ser a mesma esposa e mãe irretocáveis que nossas mães foram (pois muitos homens desta era continuam pensando retrô), mas ao mesmo tempo temos que nos bastar financeiramente, não apenas para ajudar nas despesas do lar, como também para ser a mais bem vestida, com o mais belo cabelo, unhas e maquiagem sempre vistosas...

Antes de mais nada, quero deixar claro que sou a favor da amamentação, mas para quem a quer, realmente. Sou a favor também do livre direito de optar pela não-amamentação, mesmo que muitas vezes eu me empenhe por incentivar o contrário. Isso não torna uma mulher menos mãe, apenas indica que ela priorizou outra questão, qualquer uma, que não nos vem ao caso, mas que não a priva da possibilidade dela ser uma mãe muito melhor que eu ou você, que amamentou por tantos outros meses a fio. Ter um filho, um ser diferente de todos os outros, 365 dias de ano após ano, traz uma infinidade de várias dificuldades, particularidades, outras questões, onde ela (a mãe) terá muitas outras oportunidades de superação e força. 

Eu cito aqui meu exemplo: Meu primeiro filho nasceu de uma cesária decidida no último mês, por livre e espontâneo "pânico". Aquilo me deixou muito mal, associado a depressão pós parto (genética mesmo, falta de serotonina desde longa data), associado aos sintomas de aplv, às crises existenciais de ter abdicado do emprego... e essa mácula se arrastou pelos anos até minha segunda gestação. Eu já não tinha medo, e estava determinada a seguir com um parto Natural mesmo tendo tido o primeiro por cirurgia. No entanto, depois das contrações se iniciarem, depois de esperar dois testes de toque da parteira da maternidade, e ouvir esta abanar a cabeça negativamente, afirmando que ainda não tinha dilatado um centímetro sequer...recuei. Minhas contrações tinham duração de dor e duração de intervalos como se eu já tivesse totalmente dilatada. Seriam no mínimo 10 horas sofrendo, em intervalos de dor cada vez menores e intensidade cada vez maiores, numa situação que já estava difícil. 

Naquele momento, eu poderia ter continuado, mas teria sido apenas pra provar para todas as outras que me recriminaram outrora, que eu também era uma "mãe leoa". Provavelmente eu seria mais uma chata de galocha nas redes sociais erguendo bandeiras em nome da humanização... ou não. Vejo muitas destas "humanizadas" verdadeiramente carentes de humanização de suas palavras e atitudes. Há que se interiorizar o sentido desta palavra H U M A N I Z A Ç Ã O... Mas como eu falava, se eu tivesse tido nó na guela e unhas pra me agarrar ao colchão da cama, e tivesse aguardado aquela utópica dilatação, provavelmente, eu não seria nada mais do que já sou. Sou o melhor que consigo, dentro de todas as minhas limitações e ciente dos meus defeitos mais inconfessáveis. No entanto, admitir que FUI ATÉ ONDE FOI POSSÍVEL me trouxe finalmente PAZ naquela ferida que a Cesariana "da fraqueza" me deixou... 

Por outro lado, amamentei 14 meses, dos quais, apenas uns 10 foram por prazer, e o restante pela necessidade de tentar salvar minha filha da aplv hereditária, cumprindo dieta materna de restrição alimentar. Não adiantou, mas o sacrifício não me amargura, exatamente por que só fui até o meu limite, não me pressionei em nome da "mãe leoa". 

Tenho familiares e amigas que não conseguiram perseverar na amamentação por questões de saúde delas ou da criança. Conheço outras que desistiram simplesmente pela questão estética, mas mesmo neste caso, elas são menos qualificadas ao título? Obviamente que não! São Mães Leoas, como todas nós outras, derrubam um prédio ou constroem uma fortaleza, se preciso for, para defender o bem estar e a felicidade de um filho. 

Então amigas, cuidemos apenas do que é nosso, e deixemos o vizinho cuidar de si. Se restar alguma vontade louca de provar para os outros seus atributos e ser reconhecida publicamente, então, realmente recomendo apoio psicológico, busca pelo auto-conhecimento, algo deve está errado dentro de si. 

Também recomendo a leitura desta outra publicação:
"Disputa entre Mães", do Blog A Chegada do Bebê.



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