Hoje eu vi uma cena muito encantadora na escola dos meus
filhos...não sei se a palavra é exatamente essa
"en-can-ta-do-ra"...poderia ser "bela", ou
simplesmente "especial"...é, foi uma visão especial. Descrevo...
Meu filho estuda no primeiro ano do fundamental, crianças de seis anos.
Finzinho da última aula, eu o esperava do lado de fora, e infelizmente não
tinha ângulo para espreitar o que acontecia na sala dele...adoro observá-lo com
os colegas, checar sua interação com seus pares, enfim, coisas de mãe... Mas da
parede que eu me recostava, deitei meu olhos sobre a menina novata da outra
turma. Essa pequena é portadora de Down e tem uma diferença a
mais... um dos braços só vai até o cotovelo, não sei se foi congênito ou
amputado, mas sei que isso chamou muita atenção das demais crianças, inclusive
da minha. Meu filho veio me mostrar a colega nova, apontando interrogativo...
isso me deixou meio constrangida, não tinha percebido seu braço interrompido,
julguei que sua estranheza era sobre a síndrome do cromossomo 21, mas não era
isso claro...o amigo que ele mais gosta na escola tem a mesma característica e
nem ele, nem os demais colegas o distinguem como alguém diferente. Mas a
anormalidade física, isso realmente causou muita curiosidade.
Então, continuando, a menina estava ali no centro da sala
sentada no chão, e a frente dela, um coleguinha também sentado a sua frente, segurava
a extremidade final do seu braçinho, e não apenas segurava, mas alisava
cuidadosamente observando bem, como se apropriasse daquela "Mão diferente,
mão sem dedos, mão especial".
Nitidamente, ele não a via como uma estranha... muito pelo contrário,
nunca vi tamanha intimidade. Intimidade aqui, não é a mesma que os adultos
costumam denominar, mas a intimidade relacionada a "proximidade,
cumplicidade".
Eu não sou tão experiente assim, mas acredito que seria
muito difícil ver uma cena daquelas protagonizada por um adulto. As pessoas
segregam, repunam com o olhar, que dirá com o gesto, com as mãos...
Eu estou muito feliz de ter meu filho nesta escola, acho que
realmente tem algo especial ali... um dia essas crianças vão aprender a
segregar, com seus pais, seus amigos....mas quem sabe, alguns consigam
preservar essa sementinha que germinou ali, nos primeiros anos de sua
infância... seria maravilhoso se toda escola tivesse a graça de crianças
diferentes, sejam autistas, downs, alérgicos, cadeirantes, crianças sem uma das
mãos... seria maravilhoso que as crianças aprendessem a conviver com as
diferenças e pudessem fazer como o menino que vi hoje: olhar, chegar perto,
sentar-se a frente, apalpar , acarinhar e se apropriar da diferença, a tomando
pra si e a entendendo como uma simples roupa, uma casca que guarda ali dentro o
que realmente tem valor.
Não sei se consegui passar o que pretendi neste texto, enfim, meu desejo é que
esse mundo mude, não de forma espacial, não simplesmente o ar poluído, as águas
que sobram ou que faltam, a desigualdade social....mas queria que esse planeta
mudasse no coração das pessoas. Não parecemos mais com seres humanos, nos
perdemos... e acho que podemos ainda nos encontrar novamente, se olharmos para
nossos filhos.
Sua fã!
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