quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Uma mão especial...

Hoje eu vi uma cena muito encantadora na escola dos meus filhos...não sei se a palavra é exatamente essa  "en-can-ta-do-ra"...poderia ser "bela", ou simplesmente "especial"...é, foi uma visão especial. Descrevo...

Meu filho estuda no primeiro ano do fundamental, crianças de seis anos. Finzinho da última aula, eu o esperava do lado de fora, e infelizmente não tinha ângulo para espreitar o que acontecia na sala dele...adoro observá-lo com os colegas, checar sua interação com seus pares, enfim, coisas de mãe... Mas da parede que eu me recostava, deitei meu olhos sobre a menina novata da outra turma. Essa pequena é portadora de Down e tem uma diferença a mais... um dos braços só vai até o cotovelo, não sei se foi congênito ou amputado, mas sei que isso chamou muita atenção das demais crianças, inclusive da minha. Meu filho veio me mostrar a colega nova, apontando interrogativo... isso me deixou meio constrangida, não tinha percebido seu braço interrompido, julguei que sua estranheza era sobre a síndrome do cromossomo 21, mas não era isso claro...o amigo que ele mais gosta na escola tem a mesma característica e nem ele, nem os demais colegas o distinguem como alguém diferente. Mas a anormalidade física, isso realmente causou muita curiosidade.

Então, continuando, a menina estava ali no centro da sala sentada no chão, e a frente dela, um coleguinha também sentado a sua frente, segurava a extremidade final do seu braçinho, e não apenas segurava, mas alisava cuidadosamente observando bem, como se apropriasse daquela "Mão diferente, mão sem dedos, mão especial".  Nitidamente, ele não a via como uma estranha... muito pelo contrário, nunca vi tamanha intimidade. Intimidade aqui, não é a mesma que os adultos costumam denominar, mas a intimidade relacionada a "proximidade, cumplicidade".
Eu não sou tão experiente assim, mas acredito que seria muito difícil ver uma cena daquelas protagonizada por um adulto. As pessoas segregam, repunam com o olhar, que dirá com o gesto, com as mãos...

Eu estou muito feliz de ter meu filho nesta escola, acho que realmente tem algo especial ali... um dia essas crianças vão aprender a segregar, com seus pais, seus amigos....mas quem sabe, alguns consigam preservar essa sementinha que germinou ali, nos primeiros anos de sua infância... seria maravilhoso se toda escola tivesse a graça de crianças diferentes, sejam autistas, downs, alérgicos, cadeirantes, crianças sem uma das mãos... seria maravilhoso que as crianças aprendessem a conviver com as diferenças e pudessem fazer como o menino que vi hoje: olhar, chegar perto, sentar-se a frente, apalpar , acarinhar e se apropriar da diferença, a tomando pra si e a entendendo como uma simples roupa, uma casca que guarda ali dentro o que realmente tem valor. 

Não sei se consegui passar o que pretendi neste texto, enfim, meu desejo é que esse mundo mude, não de forma espacial, não simplesmente o ar poluído, as águas que sobram ou que faltam, a desigualdade social....mas queria que esse planeta mudasse no coração das pessoas. Não parecemos mais com seres humanos, nos perdemos... e acho que podemos ainda nos encontrar novamente, se olharmos para nossos filhos.


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