Você já sentiu culpa por comer
numa pizzaria sem as crianças? ( por flagrar-se aliviada, pois não precisava se preocupar com as mãos, ou em
comer escondido deles);
Você já se viu zangada com um
funcionário que empacotou suas compras? (pelo inocente ter colocado as comidas do seu
filho na mesma sacola dos iogurtes do seu marido);
Você já fez ecoar um grito
incontrolável dentro de um supermercado? (por ver seu filho tirando um biscoito de um pacote
que alguém deixou aberto nas prateleiras);
E ainda no mesmo cenário, fazendo
sua feira semanal, você já teve que sair às pressas, deixando um carrinho cheio
de compras pra trás, por ter esquecido o antialérgico em casa, e ver ali seu
filho todo empolado, com olho inchado? Sabe porque, dessa vez? Porque o pai teimou em colocar o menino naqueles carrinhos de criança, acoplado ao
cesto de compras... um absurdo né? Querer que seu filho seja igual a
todas as outras criança da cidade? imagine só, naquele dia, ou
muitos dias antes, algum pequeno deve ter utilizado o mesmo, se deliciando com um
iogurte antes de pagar, como é muito comum de se ver...e aí, o outro garoto,
coitado, alérgico a leite reagiu ao simples contato da direção e da cadeirinha
sujas.
Respiro fundo e te falo: Sim,
isso tudo já aconteceu comigo! E infinitas outras coisas! Poderia escrever
facilmente uma lista de 10 páginas. E justamente hoje, não sei porque,
relembrei tudo que fomos, eu, meu marido, meu filho (e posteriormente, minha
caçula), tudo que deixamos pra trás nesses maravilhosos anos, desde que nos formamos como
família... e quem não tem histórias pra contar? Nenhuma há de ser igual a
outra, certamente. A minha, é esta. E sendo chata ou não pra você, meus causos
estarão sempre relatando uma mãe que precisa levar marmitas dentro da bolsa
quando vai à festas, ao restaurante, ao parque, ao teatro,
ao jogo de futebol...uma mãe que já teve que voltar correndo pra casa depois de
deixar o filho na escola, pra preparar os brigadeiros dele, pois a professora
esqueceu de avisar que teria um aniversário em sala... uma mãe que não sabe o
que é viajar sem ter que levar a casa junto e um grande isopor cheio de comidas
congeladas.
Sei que muitas mães já viveram
tudo isso e saberão exatamente do que estou falando...e pra vocês eu digo: Eu
sei o que vocês sentiram em cada momento e respeito toda sua frustração com o
mundo, com a vida, com o destino. Respeito mais ainda, a sua volta por cima,
tentando reinventar-se e adequar o mundo a vocês. Mas também queria te falar
que é maravilhoso ter um filho com alergia alimentar, é um verdadeiro presente
até, dependendo do seu referencial. Mas para que você concorde comigo verdadeiramente, antes de
tudo, vou te pedir que esqueça alguns paradigmas sobre a felicidade, como por
exemplo:
1º) Ser feliz é levar um pote de
danoninho dentro da bolsa das crianças;
2º) Ser feliz é poder passar o
sábado e o domingo de pernas pro ar, e entrar na cozinha só pra beber água.
Poder almoçar no restaurante novo que abriu no bairro e a noite pedir uma comida delivery;
3º) Ser feliz é encomendar
salgadinhos, docinhos e bolo no aniversário do filho e só se preocupar em não
atrasar seu horário no salão de beleza;
4º) Ser feliz é quando seus
filhos estudam no infantil e sua única tensão é referente as mordidas que ele
trás pra casa.
Entendeu? Vê como tudo isso é
apenas um ponto de vista? A maioria das pessoas são assim, mas isso não quer dizer
que você precise disso pra ser feliz. Pense: existem outras opções? Existem
outros caminhos? Claro que sim.
Agora, para que você tenha
certeza que seu filho é um privilegiado, questione-se sobre os itens a seguir:
1º)A alergia faz de seu filho uma
criança menos inteligente, menos alegre, menos sorridente?
2º)A alergia o impede de comer,
de degustar, de sentir prazer com os alimentos?
3º)Os alimentos que ele não pode
comer são insubstituíveis?
4º) A alergia vai impedir seu
filho de estudar, trabalhar, casar-se, ter amigos?
5º) A alergia vai minguar a saúde
ou matar o seu filho?
Enfim, se você realmente estiver
fazendo seu papel materno, ou essa alergia não tiver causado um dano mais severo, tenho certeza que todas as respostas para as cinco
questões foram "não", e que neste momento você vai lembrar de algumas
outras crianças com patologias muito mais complicadas, que delimitam e até
cessam todas essas possibilidades de satisfação pessoal. E é por isso, enfim
que eu considero a alergia, hoje, como algo tão grande como uma gripe...que eu
me lamento pela febre e pela tosse, e que preferiria mil vezes nunca ter
contraído, mas que no fundo, eu sempre saberei que a febre e a tosse vão
passar, que depois de sanada, você poderá viver normalmente pra sempre, até a
próxima gripe.
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