sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Nas Salas de Espera

(por Marilia Pinheiro)

Nas salas de espera
Há mães sem maquiagem, há olheiras honestas
Não sorrriem nem respondem "bom dia"
Por que já não estão ali
Viajam por agendas e contas talvez
Outras, pensam no passado, se preocupam com o futuro
Sonham com o passado, com os sonhos do passado
Creem no futuro, nas promessas do futuro
Vivem o presente, o susto do presente
Acostumam-se
com o susto
com o presente 
com o futuro do passado
com o passado dos sonhos
nas salas de espera.

Quando a porta se abre
elas regressam pra sala de espera
Recebem de volta seus filhos
Pernas metálicas em meninos bonitos
Vidas codificadas por genéticos sinais
Não conhecem o mistério 
Não questionam os porquês 
Apenas, e desde o primeiro dia, recebem 
O filho esperado ser como nunca se esperou
Levam por aí, pela mão, pelos braços, pelos ombros
Levam também suas olheiras honestas
Seus sonhos futuros com pernas de carne
Sem metal
Sem rodas
Sem salas de espera

Vão mães 
Eu fico por aqui
Minha porta ainda não abriu
Tenho ainda algum tempo pra sonhar
Pra compor uma poesia
Pra agradecer minhas pernas de carne
Que logo mais virão sozinhas correndo ou aos saltos 
E o dono delas eu não vou buscar, mas tentar alcançar 
Ele corre na minha frente e eu corro atrás dele
Ele sonha na frente e eu sonho o sonho dele.



sábado, 18 de fevereiro de 2017

Bolas de Neve ou Incêndios de Rita Lobo e Mães com maioneses veganas

Aproveitando meu sábado pra nadar no facebook, encontrei o mesmo assunto do último acesso, continuando a predominar no meu "feed" atualizado. Das duas, uma: ou aquilo realmente era a polêmica da semana; ou tenho ainda muitos amigos dos antigos grupos de mães de aplv*.
Daí, fui no meu comentário na página da polêmica, e vi que ninguém respondeu ou "curtiu", ou xingou... claro, tem mais de 3.000 comentários e o meu ainda é "textão". Quem "mentalmente saudável" leria? No entanto, decidi trazer o tema pra cá, ressuscitando assim, o velho "Amargo que te torno Doce".
Dito isto, a polêmica é a seguinte: A apresentadora Rita Lobo, que tem um canal de receitas na GNT e outras mídias, tuitou, em resposta a uma seguidora, a seguinte mensagem:

Depois disso, choveu reações de amigas (conhecidas dos grupos de aplv) no meu facecebook, condenando a apresentadora. Eu não entendi, ignorei, fechei o aplicativo e fui viver, como sempre. Só que no dia seguinte, quando fui checar o "saco" novamente, lá estavam mais publicações com "Rita Lobo, a 'modelete' do mal", e a cada dia, a coisa só crescia, a ponto que ontem resolvi entrar na página da tal celebridade (começei a seguí-la, essas polêmicas são maravilhosas pra esse pessoal) e até comentei uma das publicações onde a discussão estava rolando, como já mencionei. E vou incorporar aqui, adaptando ao que escrevi lá. Não pretendo ser mais uma a abastecer lenha nessa fogueira, nem afrontar ou defender qualquer parte, o que não significa que ficarei em cima do muro. Mas vou só contribuir com a opinião de alguém que JÁ ESTEVE na vibe "mudei minha vida porque tenho um filho alérgico alimentar" e, AO MESMO TEMPO,não identifico "erro mortal" nas ações da apresentadora Rita Lobo.
O que eu diria para a Rita:
Como você bem sabe, a alimentação mexe com a vida das pessoas em todas as esferas: bem estar e estética, como também social, psicológica e emocionalmente. Então, quando a pessoa se vê tendo que mudar hábitos que já estavam enraizados, quando percebe que só ela terá que fazer isso, porém a sociedade em volta não o fará, tampouco a percebe ou reconhece o esforço por ela feito, isso causa uma certa frustração, sentimento de injustiça, enfim, acontece um troço complexo na vida dessa pessoa, bastante delicado, principalmente porque envolve filhos, saúde etc. Então, é fato que existem os modismos, mas tais modismos vieram DEPOIS da alergia e da intolerância alimentar (as duas coisas são diferentes, esquivo-me de explicar, fica para quem interessar pesquisar), ou seja, a recorrência cada vez maior de alérgicos e de intolerantes fez surgir o modismo, mas não quer dizer que tudo seja modismo. Existe os que "escolhem" fazer a dieta, e existe os que "precisam" fazê-la. Explicado isso, temos realmente de ter toda uma delicadeza com essas pessoas que "precisam" fazer a dieta, por todas essas interferências que sitei sobre suas vidas (sócio, psicológico e emocionalmente). Então a resposta do Twitter não foi lá muito feliz realmente (mas falo isso, sem saber o contexto total, pois não li a pergunta que gerou a tal resposta da Rita).
Agora, o que eu diria às mães:
Só sabe das dificuldades e seriedade da nossa "dificuldade" quem a vive. Seja ela alergia alimentar, seja autismo, seja deficiência física. Então, precisamos ter sempre isso em mente antes de abordar as pessoas. Ou seja, antes de perguntar se uma receita pode ser do jeito X, temos que explicar que o X é importante pra mim porque corro risco de vida, e não porque "só quero estar fazendo a dieta da moda".
E para ambas partes:
Acho que há temas que viram explosão, iniciado por uma faísca mesmo, basta que alguém jogue gasolina em cima... Não há muito benefício nas "explosões", porque, se por um lado, ela fica hiper- iluminada e visível, por outro lado, ela pode queimar muita gente. A analogia é essa mesma: se por um lado se deseja defender a bandeira da "deficiência metabólica" , por outro, fomenta-se a fama da "chatice, exageriçe, mimimiçe".
Com isso tudo a Rita Lobo deve está muito feliz, pois ganhou imenso destaque com toda essa repercussão, vai vender muito mais o livro que lançou, e por exemplo foi a convidada do seguinte programa, que vou lincar abaixo, mas quem quiser pular, a seguir darei meu diagnóstico do que a moça falou.




O que tenho a dizer sobre a entrevista a cima: Ela continuou errando, e dessa vez, foi realmente feio, porque mostrou que a mesma não procurou entender o caso. Ela simplesmente ignorou a motivação da seguidora que lançou a tal pergunta sobre a substituição dos ingredientes da maionese. Em nenhum momento do vídeo (assisti completo) ela fala que era um caso de alergia alimentar. Pelo contrário, passa-se o tempo todo a ideia de que as pessoas que lhe criticavam eram meras seguidoras de dietas da moda, dietas irresponsáveis, enfim. Daí, realmente, cria-se uma guerra desigual, onde ganha vantagem quem tem mais voz e visibilidade na mídia (no caso, a apresentadora). Daí minha motivação de publicar isso aqui, mesmo tendo consciência que meu alcance é zero%, não negociei com nenhum profissional da linha "compre milhares de curtidas", mas fica aqui registrado meu posicionamento, e quem concordar, disponha-se à vontade para o compartilhamento.
Isso não precisava ser uma guerra. Seria bonito se a apresentadora fechasse essa "disputa" com um pedido de desculpas para a seguidora que gerou o debate, e fizesse pessoalmente um aprofundamento sobre as alergias alimentares.
Simultaneamente, acho que seria SAUDÁVEL se as mães ofendidas também baixassem um pouco as ferozes armas, porque, realmente, tudo isso começou muito por falta de uma LINGUAGEM EFICAZ na TRANSMISSÃO DA MENSAGEM COMPLETA. E por conta disso, a apresentadora, que TAMBÉM, não foi nada sensata e madura, acabou dando uma resposta infeliz, consequentemente lançou uma bola de neve. A sociedade gosta de "bolas de neve" em tempos de redes sociais. Ninguém vê o grão que iniciou a bola, mas todos querem aglomerar mais volume ao conteúdo da "bola".
P.s. sou fã muito recente do programa. Acho maravilhosas as receitas e os valores culturais que a Rita tenta incentivar, como o justo ato de "lavar a própria louça" , quando o costume (nas casas de classe média e nos programas de culinária) é deixar para a "serviçal" lavar. Parabéns para a Lobo e sua equipe de apoio.
*aplv = Alérgicos à proteína do leite de vaca

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Carta à mãe "Neura" em Alergia Alimentar que um dia eu fui

Querida Marília,

Hoje cedo eu fiz algo que te alarmaria muito, se tivesse acontecido há uns cinco anos atrás: Peguei a faca do queijo coalho e cortei uma fatia do Bolo de Chocolate da caçula alérgica a leite e ela o comeu completo. E você não acreditaria que agora, na casa de minha mãe, eles ficam lado a lado na mesa: o bolo sem leite e o queijo! São tantas coisas, minha cara, que você custaria a crer que um dia eu fui você... a margarina sem leite é compartilhada com toda a família, ora entra uma faca que acabou de cortar o famigerado queijo, ora sai dela uma colher pra temperar a comida da "minha" filha (minha, porque não é mais sua, pois definitivamente, eu não sou mais você). Outra: a bucha de lavar pratos, faz muito tempo que é a mesma que limpa os utensílios de iogurte! Aliás, na geladeira da minha casa, você vai encontrar iogurte, requeijão, e outras coisinhas, sem medo, afinal minha pequena é tão consciente. Desnecessário aquela rigidez que você tinha na época que o primogênito tinha alergia a leite...Tá certo que ele era muito sensível, que ficou o trauma da anafilaxia aos 6 meses de vida, que cansou de todas as vezes que ele saía com a pele empolada de um brinquedo do play, ou da cadeirinha do carrinho de mercantil, ou dos braços do avô, da avó, do tio...sei que você tinha muitas inseguranças e poucas respostas, mas hoje, te asseguro: você poderia ter relaxado mais, aproveitado mais as festas, as casas dos amigos, os filhos dos seus amigos, as piscinas!, as viagens...ah, as viagens... você mal via a cidade que visitava, mal aproveitava a cama do hotel, estava sempre a preparar almoço da panela elétrica, lavando louça na pia do banheiro, descongelando jantar pra levar pro passeio seguinte..."aff" tadinha! Dá pena...

Semana passada, viajamos pra Gramado, eu, o marido, e as duas crianças. Lembra da última vez que fomos pra lá? Só o mais velho era nascido, ele tinha 2 aninhos, auge da Marília-Neura. Não visitamos as fábricas de chocolate (só de pensar em respirar aquele ar você já tremia, só andava com a mão na adrenalina auto-injetável), não experimentamos a gastronomia maravilhosa gaúcha, restou pouquíssimo tempo para os passeios (a velha produção alimentar de panela elétrica e a imensa bagagem). Hoje ele já está com  sete anos e tem uma irmã de quatro. Há um ano ele curou do leite, ou seja, há um ano, descobri que ele estava curado, porque pode ter sido antes disso... Ele também já come produtos com ovo, mas só processado! Porque depois que eu relaxei, sabendo que já estava curado do leite, comecei a oferecer produtos das festas, das lanchonetes, restaurantes...claro que alguns tinham não só traços de ovo, como o próprio ovo! Mas um dia, apenas uma única vez, deu errado. Ele tomou um sorvete e reagiu (até forte) com urticária...daí tive certeza, ele ainda não estava curado da alergia ao ovo cru, porque era o que tinha no tal sorvete: clara crua de ovo. Mas não recuei, segui firme e continuei oferecendo alimentos "da rua", até que tomei a atitude mais corajosa de todos os tempos: Cansada de tanto desmarcar os testes de provocação oral na alergologista dele (ora por causa de uma virose, ora por causa de um antialérgico), ofereci um alimento que eu tinha a certeza que tinha ovo, feito em casa. Deu certo, nenhuma reação. Daí certo dia EU-FRITEI-UM-OVO, e ele comeu TODO! Advinha? ADOROU! Lindo, sem marcas na pele, sem coceiras...

Fiquei lembrando de você nesse dia, Marília. Sabe o que você achava que iria fazer quando isso acontecesse? Quando pudesse preparar para o seu filho sua grande especialidade culinária da adolescência "Farofa de Bolacha Cracker com ovo frito"? Você achava que seria o dia mais feliz do mundo, que mandaria rezar uma missa de ação de graças, escrever um depoimento emocionante de 3 páginas... Mas você só seguiu para o dia seguinte, sem missa, sem depoimento, nem a médica você contou...

Então, hoje, ainda temos a moçinha mais nova alérgica a leite, apesar de que tenho dúvidas se é a leite mesmo. Ainda não testei soja, nem carne também. Mas já come milho sem reações e já está no leite com proteína extensamente hidrolisada e com lactose. Não tenho pressa de fazer o próximo teste, porque nossa vida tá muito tranquila agora, minha cara. Não tenho medo de viajar, de passear, de visitar os amigos, de ir nas festas...ela come traços e traços, faz exatamente tudo que qualquer criança faz, e um dia quem sabe, essa alergia fica enterrada definitivamente na nossa história.

Pra terminar, quero te dizer que você foi importante pra mim. Se você não tivesse existido, eu não teria o parâmetro pra comparar com a Marília que sou hoje, eu não saberia que você foi um erro...claro, um erro querendo acertar, que deixou de viver tanta coisa, que sofreu sem precisar sofrer...mas que bom, você ficou pra trás, e de você não sinto nem um caroço de saudade. Sou melhor assim, os meninos estão melhores sem você, estão muito bem comigo.

E se a Marília de hoje pudesse ter te enviado essa carta há pelo menos cinco anos atrás, ela te daria este conselho: "Arrisque. Tente até que faça mal. Só recue se fizer mal. Mas arrisque, tente, e não deixe de viver, porque morrer também é matar os momentos felizes que você deixa de viver, por medo."

Até nunca mais...

Ass.: Marília (sem Neura).

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O difícil desafio de se caminhar junto.

Estava procurando uma imagem para a publicação e achei que este
desenho do meu filho ilustra bem o tema: Personagens do joguinho Cut the Rope.
Todos são bem diferentes, cada um com sua habilidade, capaz de ajudar o herói na
conquista de seu objetivo: um doce, que geralmente está preso a uma corda, e é preciso
cortá-la, para que o doce seja saboreado. Os heróis, somos todos nós. As cordas são nossas
limitações, que podem ser superadas com as habilidades dos amigos, e o doce, claro, 
é a conquista da vida, seus saberes e prazeres.

Hoje eu vou falar novamente de Inclusão, porque preciso defender um ponto de vista, mesmo correndo o risco de ser mal interpretada. Em outras palavras, quero falar sobre os desacordos entre os passageiros de um mesmo barco. Acho importante  pensarmos que pode existir egoísmo, ironicamente, por parte também daqueles que lutam contra as políticas excludentes.

Existem "N" tipos de deficiências hoje em dia, cada uma tem sua variante e suas necessidades específicas. Até mesmo dentro de uma mesma patologia existem essas variáveis (como é o caso do autismo), o que torna a solução dos problemas de inclusão social cada vez mais complicado. Exemplificarei para melhor entendimento, narrando uma história "de faz de conta"...Ela acontece numa escola, até porque o ambiente escolar sempre será o melhor exemplo de convívio social. É a amostra mais próxima da realidade e, acertadamente, a primeira experiência humana de convívio e relacionamentos entre diferentes classes.
Era uma vez, uma escola que sempre acolhia todas as formas de ser diferentes, em todas as variáveis físicas, psíquicas, religiosas, étnicas, antes mesmo que houvesse leis que assim estabelecesse. A metodologia, a filosofia e ideologia apoiava a diversidade, mas ela (escola) não acompanhou a evolução do processo de direitos de todos, inclusive os dos deficientes que ela tão desbravadamente recebia, e eram muitos! Havia crianças com doenças neuro-muscular, com Síndrome de Down, com deficiências de locomoção, autistas dos mais diferentes níveis de severidade, e em muitos deles, inúmeras outras comorbidades. Naquela instituição convivia-se com a diversidade desde os primeiros anos, e apesar de todas as peculiaridades de humanização que eram proporcionadas, alguns direitos eram negados e algumas políticas ignoradas. Até que um dia surgiu uma Lei que dizia assim: "A partir de hoje, fica decretado que toda escola deve proporcionar a acessibilidade dos alunos com necessidades específicas devido a deficiências, possibilitando a estes o direito de alimentar-se de todas as opções de alimento, transitar em todos os espaços de estudo, participar de todas as atividades de aprendizado e recreação". E essa tal lei mudou tudo, porque no dia seguinte, todas as mães se manifestaram revindicando mudanças, e a escola por fim tentou agradar a todos.
Primeiro mudou o cardápio da escola tirando todos os ingredientes que tinham leite de vaca, o que deixou as mães de crianças com alergia alimentar muito felizes, porém, a mãe do que não comia quase nada, ficou revoltada, pois o mingau de farinha láctea e o sanduíche com queijo eram os únicos itens que ele aceitava bem;
Segundo incentivou a capacitação dos professores para os transtornos do espectro autista, o que resultou uma série de adaptações metodológicas na rotina em sala. Foi o bastante para que algumas mães questionassem as mudanças por acharem que procedimentos desenvolvidos para autistas não serviam para crianças "normais";
Finalmente, iniciou o processo de implantação do elevador para que as crianças com dificuldades de locomoção pudessem acessar o piso superior. No entanto, isso demandou aproximadamente 60 dias dentro do período letivo, durante o qual, as turmas com cadeirante foram relocadas para o piso térreo, na única sala possível, pois todas as outras estavam ocupadas, sem possibilidade de serem alteradas. Mas a experiência não teve sucesso pois as crianças autistas ficaram extremamente agitadas e dispersas na nova sala, devido às características de espaço, conforto ambiental e acústica.
Concluindo, todas as medidas geraram polêmicas, discussões, reuniões devido ao descontentamento dos pais de alunos. A satisfação de um causava a angústia em outro. 
O que seria necessário para essa história ter um final feliz?  
  • Compreensão da realidade; 
  • Parceria nas dificuldades; e 
  • Tolerância nas diferenças.

Para que a Escola enfim tivesse paz, precisaria que a mãe triste pelo cardápio sem leite entendesse que o filho dela poderia continuar comendo o que quisesse nas outras cinco refeições do dia; e que a mãe chateada com as alterações desenvolvidas em função dos autistas se informasse melhor sobre essas crianças, descobrindo que muitas são até mais inteligentes que o filho "normal" dela; precisaria também do "meio termo" por parte das mães de alunos com autismo e das mães dos cadeirantes, onde cada lado cedesse um pouco.

Essa história sai da Escola, vai pras ruas, para as redes sociais, transita no mundo. Não importa a necessidade que alguém tenha, se envolve uma futilidade ou uma luta humanitária de classes, de etnias, de religiões, de miseráveis, de homossexuais, de mulheres, de deficientes... por mais que uma dificuldade te sensibilize das demais, você SEMPRE vai priorizar a você mesmo, ao seu filho, ao seu ente querido, e vai passar por cima da necessidade do outro (muitas vezes, sem perceber), porque a diversidade é "diversa", se choca, se encontra, perpassa... E para ter paz na vida, assim como na escola, é preciso parar por um minuto. Parar, olhar em volta, pensar, ceder. Ceder aqui é sinônimo de tolerar. E por mais que uma Lei decretada te assegure um direito, antes de abri-la em seu peito, tente usar o seu bom senso de humanidade, tente "parar-observar-pensar-ceder"... Você verá que, ocasionalmente você pode dispensar sua vaga prioritária de estacionamento e exercitar-se um pouco por um caminho mais longo; que nem sempre você vai precisar ganhar inimigos para conquistar a implantação de uma rampa; que em algum momento sua bicicleta poderá desviar do carro parado na ciclo-faixa enquanto descarrega as compras na porta da casa dele, e você poderá seguir feliz sem precisar xingar o motorista nem publicar a foto dele na internet; e que você poderá aproveitar as imprevistas alterações na rotina escolar para ensinar seu filho autista que ele pode superá-las e adaptar-se...

É isto que eu queria trazer neste texto, que SIM, precisamos lutar pelos nossos direitos. Mas muitas vezes, a conquista destes, faz com que as pessoas passem por cima de outras, por um único motivo... Elas focam tanto no objetivo, que esquecem de observar o entorno, o caminho e as pessoas que caminham ali naquela mesma estrada. Sua necessidade não deve te marginalizar perante a sociedade, mas também não te torna o mais importante nem o mais frágil.

Todas as diferenças são benéficas numa sociedade democrática, e estamos apenas nos primeiros estágios do aprendizado para superar as dificuldades e integrá-las sem preconceitos, sem mitos, sem crimes e sem vítimas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Quero falar de uma coisa...

Faz tempo que quero falar sobre uma 'coisa'... E agora me veio uma música do Milton que, por sinal, tem tudo a ver com essa coisa, que convivo já há tanto tempo, mas ultimamente, em especial nos últimos dias, acordei e dormi pensando nela: Inclusão. 

Falam de Inclusão "Social", mas eu falo de Inclusão na Vida. Porque sem poder estudar, trabalhar, locomover-se, divertir-se, alimentar-se... quando não se pode fazer essas coisas básicas, então não se vive. E somos todos humanos e evoluídos, mas sabemos que nossa história é intercalada por várias atrocidades, aberrações e, porque não dizer, maldades. Exemplo disso pintado pelo Holocausto, quando tivemos milhares de vidas delimitadas ou exterminadas, simplesmente por não pertencerem a determinado círculo da população. Esse episódio, assim como outros horrorosos, como a queima às "bruxas", a tortura na ditadura militar brasileira ou a barbárie realizada nos antigos sanatórios, enfim, muitos erros cometidos devido a intolerância entre seres humanos ficaram para trás, como capítulos vergonhosos da história. No entanto, nossa essência nos trai, desmente essa índole de civilidade que a modernidade nos contempla. Trai-nos quando precisamos de uma lei para que se concretize algo que deveria ser espontâneo e natural, sendo esta a Lei 13.146/15, a LBI, ou simplesmente, Lei de Inclusão. E devido a todo o burburinho, reorganização e polêmica envolvidos, resolvi justamente falar sobre essa coisa que deveria estar, como na canção, dentro do peito de cada homem e mulher desse planeta, isto é, se quisermos realmente um mundo para todos.

E o que Holocausto tem haver com Inclusão? Antes disso, vou relembrar das minhas aulas na Arquitetura. Foi lá que ouvi pela primeira vez o termo "Desenho Universal" que , praticássemos ou não, nos acompanhava a cada disciplina, e havia sempre aquela busca ideológica do "Espaço para todos", ou para o máximo possível. Resumindo, o que eu entendia, é que mesmo que não conseguíssemos em algum momento contemplar o todo, mas que fizéssemos o nosso máximo para alcançá-lo. Na prática, para você que não é arquiteto, explicarei grosseiramente a teoria do Desenho Universal: Pense na maçaneta da porta. Ela deve está há determinada altura do chão, onde todos conseguem alcançar e acessar o ambiente que ela guarda, o que seria aproximadamente 1,00 metro. Mas se ela tivesse há 1,60 da soleira, por exemplo, eu que tenho essa mesma altura ainda conseguiria manipulá-la, no entanto, minha filha de apenas 1 metro, não. Portanto, a altura padrão das maçanetas nas portas seguem o princípio de desenho universal, onde a grande maioria das pessoas são capazes de utilizá-la. Mas essa maioria, não é uma estimativa puramente numérica. Ela deve ser pensada com inteligência, coerência e justiça. Eu devo contemplar não simplesmente a "maioria", mas a maioria "possível", deixando de fora apenas o impossível. Por isso, eu quis citar o Desenho Universal depois de citar o Holocausto, e antes de falar sobre Inclusão.

Incluir alguém na sociedade é simplesmente SEGUIR a teoria do Desenho Universal e REPELIR (totalmente) a teoria do Holocausto.

Nós não queremos uma escola (ou praça, restaurante, museu, igreja) apenas para brancos, loiros e de olhos azuis. 

Já pensou se te privassem de entrar no cinema devido a algo que te foge do controle, tipo, por você ter olhos cor de mel? É uma analogia ridícula, mas serve para entender que é algo que nasceu com você, na qual te falta o poder de mudar, e que te caracteriza como pessoa. E de repente vem alguém e institui que essa cor de olhos é uma minoria e pode ficar de fora.

Agora vamos para a realidade: em vez de olhos cor de mel, tua característica é ser obesa. Daí você não entra no cinema simplesmente porque seu quadril não se acomoda no assento da sala de cinema. A inclusão deve fugir de julgamentos ou hipóteses, ela deve simplesmente incluir e pronto. Portanto, nem precisamos julgar se aquela pessoa obesa assim o é, por compulsão ou genética, ela deve ter o direito de viver, e isso inclui assistir um filme no cinema. Da mesma forma devemos ter prédios com rampas ou sistemas mecânicos de locomoção entre seus pisos, para que um cadeirante, um idoso, ou simplesmente o carrinho de bebê possa conviver de seus espaços. E qual a dificuldade de se colocar um quadro de rotina na parede da sala de aula, a fim de que o aluno autista possa se organizar melhor? Acaso este quadro atrapalharia os não-autistas? E a rampa, atrapalharia os que podem utilizar escadas? E o assento maior, dificultaria a ocupação por alguém magro? E seria muito difícil trocar a marca do pão da merenda escolar para aquela que não tem leite e contempla a criança alérgica? Não. No máximo, essas atitudes demandam um pouquinho mais de empenho, um tantinho mais de espaço, e um montante maior de amor ao próximo. Enfim, incluir é fácil. Não deveríamos necessitar cursos de Inclusão, como tanto tem sido propagado, mas infelizmente, precisamos. Mas que fique claro, que o primeiro item desse curso deveria ser "ponha-se no lugar do outro" e "amanhã, você pode ser a minoria que precisará ser incluída".

Agora, deleitem-se nas letras daquela canção que me veio na lembrança, sabendo que INCLUIR é o nome certo desse amor.

Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor

Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Tantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto

Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, plantas, sentimento
Folhas, coração, juventude e fé
(CORAÇÃO DE ESTUDANTE -  Milton Nascimento e Wagner Tiso)




Links:

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Incluir de verdade! Começar por você!


Deficiência é um conceito abrangente demais para se classificar dentro de uma população. Deficientes somos todos...de coisas pequenas, de coisas grandes, de coisas visíveis ou discretas, de coisas concretas ou de sentimentos, carismas, dons, conhecimentos....todos, sem exceção, somos deficientes de alguma coisa importante.

O termo "deficiente físico", que na verdade pode ser também cognitivo e mental, está sendo representado na sociedade, através de ações sociais, jurídicas, urbanas etc, porque existem realmente pessoas que, por conta de suas deficiências específicas, sofrem duramente para serem incluídas dentro das atividades e direitos de qualquer ser social.

Por conta de amanhã, 3 de dezembro, ser o dia estabelecido pelas Nações Unidas para se celebrar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, quero deixar aqui meu clamor por mais AMOR , por mais calor humano, mais tolerância, generosidade, companheirismo, amizade, humildade... de um humano para outro humano. Humanos que somos, amemos uns aos outros, sejam deficientes do colorido ou do transparente. Sejamos exemplos para nossas crianças, antes de qualquer ensinamento que o mundo os traga.

Ontem, tivemos o fechamento de uma ação, idealizada pelo Conselho da Pessoa com Deficiência de Curitiba, que polemizou o tema através de um método bastante ousado: foi criado uma página no Facebook e implantado um outdoor real com revindicações preconceituosas. (Conheça sobre esta ação clicando aqui).

É claro que a forma adotada feriu e machucou deficientes e seus parentes, mas passado o susto e consternação e sensibilizados pelas palavras de Mirella Prosdocimo, presidente do CMDPcD, é possível simpatizar com o que, há tão pouco tempo, repudiamos. É possível cogitar que todo o custo de aborrecimento gerado seja justificado pela necessidade de fazer cada pessoa refletir sobre inclusão. Não estamos falando da inclusão que a Escola, a Igreja, o Restaurante, as Instituições todas devem efetivar. Estamos falando da inclusão que cada pessoa deve admitir em relação ao outro dentro de si mesma, a aceitação verdadeira do outro. 

Por fim, o que se questiona é simples realmente: Você, que não é um deficiente mas que ficou revoltado com a página, respeita por exemplo uma vaga prioritária? Nunca estacionou sobre o símbolo da cadeira de roda por julgar que nenhum cadeirante precisaria dela naquele momento? E quanto ao custo com itinerante ser pago pelas escolas? Você está disposto a arcar com o aumento que isso poderá acarretar na sua mensalidade? Ou pensa "o problema é de quem pariu Mateus"? Outro teste: ficaria feliz se sua filha se apaixonasse por um homem surdo? Está atento ao fato do seu filho humilhar o colega autista que não joga com destreza no time de futebol da escola?... Enfim, como o próprio movimento pós-desmascaramento justificou, se todos que se revoltaram estivessem mesmo cientes dos direitos das pessoas com deficiência, não haveria tanto desrespeito a estes. Acredito que a campanha, apesar de cruel, alcançou o objetivo que por outras formas talvez não fosse possível... fez as pessoas discutirem o assunto, alardeou e se multiplicou, chamou a atenção em larga escala e por fim, põe em cheque a atitude real versus o mero discurso.

Assista o vídeo que esclarece o teor da tal campanha publicitária clicando aqui.


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Jantar (nem tanto) Italiano :)


Alguém precisando fazer um jantar italiano sem Leite, Soja e Ovo? 

Não tive italianos para comentar o sucesso da minha aventura, mas agradou brasileiros... :)



Segui o planejamento tradicional, servindo primeiramente Bruschetas como o Antipasto (entrada), em seguida o "primo piatto"(Risoto), depois o "secondo piatto"(Peru e batatas), e finalmente a "dessert".


Menu

Sobre o créditos: Vou linkar em cada receita, apenas a fonte de inspiração, porque fiz do meu jeito, vou descrever aqui exatamente da forma que eu produzi, então não vou atribuir a outras pessoas, sem a permissão das mesma...mas pra não ser injusta, vai os links ;)



ANTIPASTO: Bruschetta de Tomate e Manjericão
inspiração:link

Ingredientes: 
5 Baguetes cortados em fatias de 2cm
4 tomates sem pele e sem sementes picados 
Alguns ramos de manjericão fresco 
3 colheres de sopa de azeite extra virgem
sal e pimenta moídos na hora
2 dentes de alho inteiros
Azeite para untar (aproximadamente 5 colheres)

Preparo: 
Pré-aquecer o forno;
Processar o alho e o azeite para untar as fatias, passar esse molho em apenas uma face de cada fatia;
Distribuir as fatias untadas numa assadeira, sem sobrepor nenhuma, e leve a forno para dourar levemente. Vire as fatias para outra face e deixe um pouco mais no forno (cuidado para a torrada não ficar muito dura); 
Prepare a cobertura, misturando bem os tomates, o manjericão picado, o sal, a pimenta e o azeite. Por fim cubra com uma porção do tomate e sirva imediatamente.


PRIMO PIATTO: Risoto de Alho Poró com Limão Siciliano
inspiração:link


Ingredientes: 
2 litros de água
Restante da receita "Peru
Ervas finas
Folhas de manjericão
Folhas de louro
Sal
2 colheres de sopa de Becel
6 dentes de alho triturado
2 cebola picada
2 talos de alho poró
500g de arroz arbóreo
suco de 2 limões sicilianos
1 taça de vinho branco

Preparo:
Ferver em aproximadamente 2 litros de água: Os ossos com restos da carne do peru (receita Peru Salteado com Champignon, abaixo), ervas finas, manjericão, folhas de louro e sal;
Em outra panela: Derreter 1 colher cheia de becel gelada e refogar o alho e a cebola até dourar. Acrescentar o alho poró e refoga mais até amolecer. Misturar o arroz arbóreo e mexer bem até absorver toda a Becel. Acrescentar o suco dos limões sicilianos e mexer novamente. Acrescentar o vinho branco e mexer. Então, vá colocando a água temperada em fervura da outra panela, de 2 em 2 conchas, sem parar de mexer. Quando tiver repetido esse processo umas cinco vezes, acrescentar todo o restante da água peneirada e tampar a panela (deixando um espaço para o vapor escapar). Cozinhe até o arroz ganhar ponto de risoto, tendo cuidado para não secar demais. (pode repor mais água para ferver junto ao tempero peneirado).


SECONDO PIATTO: 

Peru salteado com Champignon

inspiração: link

Ingredientes:
6 coxas de peru
suco de 2 laranjas
400 g de cogumelos champignon
3 dentes de alho
1 cebola picada
9 colheres de sopa de vinho tinto
2 copos de vinho branco 
15 colheres de sopa de azeite 
Gengibre fresco (à gosto)
1/2 pimentão amarelo picado
6 ramos de alecrim
sal e pimenta à gosto
coloral

Preparo:
Comece retirando as carnes da coxa de peru e cortando em cubos (cuidado para não deixar osso na carne, pois a coxa de peru é cheia de espetinhos que podem incomodar na degustação);
Ponha o peru em cubos para marinar com o suco de laranja, o vinho tinto, o vinho branco por pelo menos 10 minutos;
Corte os cogumelos em laminas bem finas, triture o alho e o gengibre, e reserve;
Numa panela com azeite quente, refogue o alho, a cebola, o pimentão e o gengibre; adicione o peru drenado do líquido da marinada (reserve o líquido) e os ramos de alecrim. Mexa bastante até que a carne fique superficialmente frita, adicione os cogumelos, o sal, o coloral, mexa novamente. Acrescente o caldo da marinada e deixe cozinhar a meia-tampa, mexendo quando necessário.

Batatas aromatizadas com canela

créditos: link (Esse eu fiz tal qual receita, ficaram ótimas! mudei um pouco só alguns procedimentos, como escrito abaixo)

Ingredientes:
1kg de Batata Inglesa
4 colheres de azeite
1 colher de chá de canela
água
sal

Preparo:
Descascar as batatas e cortar em fatias ao comprido e leve ao fogo numa panela com água e sal para cozinhar (desligue o fogo 1 minuto depois da fervura);
Forrar uma assadeira com papel manteiga e distribuir as batatas uma do lado da outra. Misturar o azeite e a canela, e regar as batatas com esse molho;
Temperar com sal e pimenta;


Levar ao forno pré-aquecido (200°C) de 35 a 40 minutos até que as batatas fiquem douradas e crocantes.

 

DESSERT: 

Palha Italiana

Essa receita é minha

Ingredientes:
600ml de leite de côco
100ml de água
200ml de vinho tinto
3 xícaras de açúcar
6 colheres rasas de amido de milho (maisena)
8 colheres de cacau em pó
2 pacotes de biscoito maisena (sem alergênicos)

Preparo:
Ferver: o leite côco, a água, o vinho e o açúcar. Ao ferver, baixar fogo e cozinhar por mais 15 minutos. Desligar;
Dissolver o amido em uma pequena quantidade da base, e misturar ao restante da panela;
Acrescentar o cacau em pó, mexer até misturar bem e ligar novamente o fogo, mexendo sempre até encorpar;
Depois de frio, acrescentar 2 pacotes de biscoito maisena picado (pouco mais que 200g) e misturar bem;
Espalhar sobre uma assadeira forrada em papel manteiga e levar a geladeira para endurecer. Servir gelada, pode acompanhar sorvete de sua preferência e ser povilhado com a farinha do biscoito maisena.